“Parece transporte escolar levando filho para escola”. É assim que a servidora pública federal Dionéia Arcoverde descreve a forma como Candy, Lucy e Lily, as três yorkshires que tutora, são transportadas em um ‘táxi para pets’, que tem se popularizado em Fortaleza. Os motoristas realizam viagens locais, como da casa do animal até o petshop, e até entre cidades e estados.
Dionéia utiliza o serviço semanalmente há dois anos, quando as cachorras precisam tomar banho, e foi conquistada pela comodidade. “É muito mais cômodo, mais prático. Porque eu tinha que sair mais cedo para o trabalho, deixava as cachorrinhas no banho e, quando saia do trabalho, passava para pegá-las. E já era muito tarde, era cansativo, elas tinham ficado muito tempo”, explica.
A tutora não acompanha presencialmente o transporte, mas recebe vídeos e fotos das cadelas a cada etapa: quando saem de casa, quando chegam ao petshop e quando voltam banhadas. “Os motoristas são super atenciosos. Os carros são bem limpinhos. É impagável, não tem preço esse conforto. É muito bom, muito saudável. Recomendo para todo mundo”, comemora.
Ele já chegou a passar seis dias com um ‘passageiro’, transportando-o de Fortaleza até Londrina (PR). A viagem inclui paradas diurnas para que os animais se alimentem e façam necessidades e noturnas para dormir. Os traslados para outros estados podem custar entre R$ 8 mil a R$ 12 mil – valor que considera pernoites em hotéis e pousadas e cuidados redobrados com a saúde dos pets.
O motorista afirma que seu serviço se diferencia de muitos transportes coletivos de animais, em que diversos cachorros e gatos são transportados em caixas na parte inferior de uma van, sem espaço e pausas para necessidades. “Precisa ter cuidados a mais com a condução. Porque o cachorro, por mais que esteja preso ao cinto, pode ser jogado contra o banco da frente em caso de freada brusca. Então nós conduzimos com mais cuidado. Transporte pet não tem pressa”, explica.
Para garantir que os animais não se contaminem, os carros da rede passaram por uma limpeza com produtos veterinários. O piso dos automóveis é envelopado com um material plástico, para evitar fixar bactérias e facilitar as limpezas. Os motoristas também utilizam capas de lona marítima em toda a área dos ‘passageiros’, que protegem o banco de sujeira e também impedem que os animais se machuquem.
Além da higiene, a rede valoriza o bem-estar dos animais, reduzindo ao máximo o estresse que pode ser causado em viagens de carro, segundo Fábio Santos. Dias antes de viagens longas, os motoristas conhecem o animal a ser transportado e deixam que o pet crie familiaridade.
Aplicativo de táxi para pets
Também interessados no ramo de transporte de animais, Luana Rodrigues e Ramon Sousa decidiram criar a VoudPet, plataforma onde as corridas são agendadas online. No fim de 2019, casal uniu as duas profissões para empreender – ele trabalhava como motorista de aplicativo e ela era atendente em um petshop.
A VoudPet tem 15 motoristas atuantes em Fortaleza e realiza entre 300 a 400 corridas mensalmente. Ramon explica que muitos tutores viram clientes recorrentes e optam pelo serviço para levar os animais para petshops e creches para animais. As corridas custam a partir de R$ 20 e ficam mais caras a depender da distância. O animal pode ir sozinho ou acompanhado do tutor.
O preço não chega a ser tão alto quanto os cobrados por motoristas particulares. Se o preço for muito baixo, o motorista não vai querer, porque tem que aspirar mais um caro, precisa de mais limpeza. E se for muito alta, não fica tão viável para os tutores”
Ramon explica que há mais de 100 motoristas cadastrados, mas um número reduzido passou pela curadoria inicial e pelo curso de formação. “A primeira etapa da triagem é enviar documentos, como CNH, documento do carro e certidão de antecedentes. Em seguida, responde formulário que vai avaliar empatia para trabalhar com os pets”, aponta.
A seleção mais criteriosa é um dos motivos fundamentais para a boa avaliação do negócio, segundo o fundador. “A gente entende que o pet é o filho de quatro patas de alguém, não consegue se comunicar. Então é mais do que obrigação da empresa tentar triar ao máximo o profissional que vai prestar o serviço”, afirma.
Para limpeza dos veículos, os profissionais utilizam spray desinfectante e podem adquirir capa impermeável. A plataforma reúne motoristas que também realizam corridas convencionais, para humanos, e profissionais que se dedicam exclusivamente ao transporte pet.
Serviços para pets em ascensão
De creches a roupas e adereços exclusivos para animais, o mercado pet tem se consolidado devido ao fenômeno social de mudança do núcleo familiar, conforme explica o professor do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará (UFC) Aurio Leocadio, doutor em marketing pela Universidade de São Paulo.
Incluído como membro da família, o pet passou a acompanhar os tutores em mais programas sociais, aumentando a demanda por transporte. “O tutor vai querer regularmente que seu pet esteja lavado, cheiroso, tosado, atendido clinicamente. E essa demanda crescente por esses serviços requer logística. É preciso tempo de deslocamento de ida e volta. Então o serviço de transporte, assim como outros que já surgiram e vão surgir, são potenciais”, comenta o especialista.
Aurio Leocardio aponta que o ramo está em plena ascensão e ainda tem demandas não atendidas, impactando em preços mais elevados. Outro ponto que possibilita produtos mais caros é a apelo emocional – tutores podem ter menor sensibilidade a preço, ao atrelarem o bem-estar do animal à própria felicidade.
O transporte especializado para animais de estimação também tem forte demanda devido à incerteza de levar os pets em transporte por aplicativo convencionais.
A 99 Pop, grande empresa do setor, concede a decisão de transporte do animal ao motorista parceiro. Os passageiros devem perguntar ao condutor via chat se o transporte pode ser realizado e se responsabilizar pela bolsa de transporte ou cadeirinha do pet. Apenas no caso de cão-guia, o transporte é obrigatório. “Passageiros que tenham sofrido qualquer forma de discriminação ou que tenham acesso do cão-guia negado, por exemplo, devem entrar em contato com a 99 pelo próprio aplicativo e reportar o ocorrido para análise do caso e adoção de medidas corretivas”, disse a empresa em nota.
Já a Uber lançou uma mobilidade exclusiva para transporte de bichos de estimação, acompanhado dos tutores, a ‘Uber Pet’. No Brasil, serviço está disponível apenas no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda não há previsão para a expansão para as outras regiões.
Os tutores devem agendar corridas com o gato ou cachorro com no mínimo 30 minutos de antecedência e se responsabilizar pelos equipamentos de transporte. “Para receber solicitações de viagens no Uber Pet, que é opcional para os motoristas parceiros, eles precisam revisar e aceitar os termos e condições da modalidade. Todas as viagens Uber Pet são identificadas no aplicativo do parceiro antes dele aceitar o pedido”, afirma a empresa.